Cinzas são na quarta, mas resolvi não contrariar meu desejo contínuo de antecipar coisas e eventos na minha vida, e fiz cinzas na terça.
Queimei em minha cabeça todas aquelas lembranças pobres de fracasso. Aquelas coisas que quando voltam à cabeça minam como um projétil nuclear a auto-estima nos deixando para baixo por um dia sermos capazes de cometer tantos enganos e burrices!
Levantei cedo depois de uma noite intensa de bebedeiras e aventuras, e saí caminhando pela praia fitando duas cenas e tentando de uma maneira quase que cinematográfica concatenar tudo aquilo à minha vida.
A primeira delas foi uma mulher, notavelmente descendente de japoneses, que brincava feliz na areia com sua filha. Em um instante passou pela minha cabecinha insana, provavelmente ainda tomada pelo espírito social que o álcool havia me propiciado na noite anterior, de lhe perguntar uma coisa, que naquele momento, devido a razões diversas me tomou a cabeça:
— É realmente necessário seguir todo o protocolo pra ser feliz: desbirocar>>parar de desbirocar>>namorar>>casar>>filhos?
Por sorte, japoneses tem a fama da introspecção... Desencarnou de mim o espírito social e continuei caminhando.
Em seguida, vi uma casa em construção de frente para a praia. E em conjunto, vi um sonho sendo construído, um desejo, enfim! Aí me remeti a minha vida e vi os sonhos que construí, percebi o lugar aonde eu estava e porque eu estava ali... foi também tudo um sonho e um desejo realizado! E de certa forma, a partir daquela casa em construção, comecei a iniciar um novo processo de queima.
E então consegui! As burrices e enganos viraram cinzas. Em pleno clima de Carnaval.