Obsessão




De nada adiantou o consolo das amigas. Ela estava obcecada por si mesma, o que fez com que trocasse tapas e sopapos com sua mãe e humilhasse seu pai.


Tudo o que ela ufanava era ficar "turbinada", afinal de contas, já havia se internado meses em uma academia, atingindo o famigerado mérito de perder dez quilogramas em um mês.


Como prêmio desejava ainda que cem mililitros de silicone adentrassem aos seus quatorze anos de vida, o que lhe foi negado, abrindo uma ferida que jorrava ódio, rancor e vingança.


Saiu de madrugada pelas ruas daquela grande cidade e o seu puro desejo entrou em sintonia perfeita com a nova parceria que estava prestes a fazer, a jovem trombou com uma prostituta e um travesti que lhe prestaram toda a solidariedade, ao verem o conturbado estado da garota.


O encontro dessas duas realidades culminou em um infalível plano entre as partes, a garota havia até mudado sua faceta de desespero para um riso e satisfação diabólicos.


Na noite seguinte, estavam as três em uma esquina, com característicos modos provocantes. Logo, chegou um automóvel que a classe média não pode adquirir facilmente, era a "vítima". A garota entrou sem se comedir com os modos libidinosos que o velho lhe tocava.


A prostituta e o travesti, portando uma arma de fogo, assaltaram o velho. Era uma mala que somava muito dinheiro, que foi dividido.


A garota esbanjava felicidade, esfregando o dinheiro pelo corpo, pois agora ela poderia agir clandestinamente e realizar a cirurgia que tanto queria.


Hoje, a garota numa cama de hospital, policiada todos os dias por seus pais, recebe em cada dor e inchaço do silicone industrial que passeia pelo seu corpo por meio de sua corrente sanguinea, seu prêmio por sua obsessão por si mesma.

Ética é soluto, hedonismo é solvente




A ética, composição dos juízos que se adquirem no decorrer da vida, não passa de um mero soluto em uma solução cujo solvente é o hedonismo.


O recepiente que contém essa solução insaturada é a vida, sendo que na infância ele começa a se encher.


O soluto começa a ser despejado quando se deparar com os primeiros códigos de ética, no ingresso à vida escolar, quando se inicia a sociabilização, que nos permite adquirir ou não, um valor importante, o respeito ao próximo.


A dissolução começa na adolescência quando a busca da satisfação pessoal determina a quantidade de solvente a ser colocado no recipiente, nesse momento é que os que têm pouco soluto, tornam-se antiéticos.


Na vida adulta tem-se que efetivar um controle maior sobre essa solução, para que a concentração da ética não diminua, tendo em vista a competitividade da carreira profissional (sobretudo em momentos de Crise) que faz com que se ponha em xeque a ética para a conquista do hedonismo.


Ao longo da vida, quando se analisa a concentração da ética e se percebe o que se fez no passado em função do acúmulo de hedonismo, constrói-se um gráfico de solubilidade, e se descobre que os momentos mais felizes da vida se encontram nos pontos em que o soluto está em total saturação.

Previsível



Este é a primeira postagem do guvenando... e não vou me valer da novidade e do imprevisível de abordar alguma temática requintada, hoje vou me render ao populacho e discutir a coisa que mais me chamou a atenção neste dia.



Me valendo da "mauricice" de poder acordar todos os dias ao meio-dia, ligo minhas baterias recarregadas almoçando, discutindo besteiras ou não com minha mãe, tia e irmã e assistindo TV.

Hoje, a Globo através do texto de Manoel Carlos, de Mulheres Apaixonadas, Marina (Paloma Duarte) soltou uma frase não inovadora e surpreendente, mas que fez pensar um ser humano tão futurista com a própria vida como eu.

Não vou saber reproduzir in sic o que a personagem proferiu vorazmente na cara de Lorena (Suzana Vieira), mas era mais ou menos assim:

"O casamento é uma promiscuidade. A mesma cama, o mesmo banheiro... Amor nenhum resiste à tanta falta de mistério, à tanta falta de saudade."

Frases como essa abalam. Sobretudo os filhos da fórmula batida de casamentos que ultrapassam bodas de prata e ouro.

No mais, me diverte particularmente ter que arranjar um novo mecanismo para burlar a facilidade de se desfazer uma relação que o século 21 trouxe consigo. E para quem acha que isso seja exagero e descrédito colossal à instituição-família tradicional, é só observar ao redor e ver como esse conceito vai mudar daqui a algum tempo.

Para cada 5 casamentos há 2 separações no Brasil, o que me faz acreditar piamente que as relações tem que se renovar, assim como os trâmites legais sobre o assunto se renovaram.

Tá, eu sei que não tenho muita propriedade para que a minha opinião seja considerada até porque não escondo de ninguém o fato de que até hoje nunca vivi uma relação estável e duradoura para testar à pratica e não à observação dessa dinâmica.

Enfim, é assim que começo o guvenando... Acreditem, tenho potencial para mais.

Até a próxima.