Contradição na Convicção



A convicção está fora de moda, mas seria mais gostoso se não estivesse. A vida realmente se torna mais portátil pra quem não tem nada a esconder, mas a portabilidade de nada vale quando se deseja sentir o macio sabor do hedonismo.


A sistemática é hierarquicamente superior a todas as relações: profissionais não convictos de suas atividades, amantes não convictos da fidelidade do parceiro, partidos políticos que dissolvem valores galgados por anos por conveniências maquiavélicas, modelos de beleza inseguros que se rendem a anorexia, bulimia, e por aí vai...


Contudo, é de se concordar que a convicção prende, e prender-se em tempos em que a liberdade tem sido gritada nos quatro cantos do mundo é uma tremenda idiotice.

Chiclete com Banana



Era uma vez um gato. Mas não um comum, esse tinha pedigree, era diferenciado. Era inteligente, tinha bagagem intelectual e fazia jus a seu título: ele era um gato.


Mas, como a onipotência só é conferida ao Criador, o gato tinha lá as suas fraquezas. Ele sabia que ele era um gato de valor no mercado animal, no entanto, o gato buscava o reconhecimento latente de seu valor em bandos, manadas e nuvens, que devido a limitações, jamais poderiam satisfazer o desejo do bichano.


Chegou um dia, que o gato agindo por instinto, confundiu-se e se atraiu pela fragância do cio de uma cadela. Era uma cadela e não uma cahorra.


O gato entorpecido pela sensação alucinógena que o olfato lhe proporcionava a cada passo que dava em direção a cadela, foi surpreendido pela correspondência da mesma, que mais sensata que o gato tratou logo de apresentar-lhe a óbvia impedância:


— A Mamãe Natureza em seus regimentos não permite que nós nos relacionemos, o que fazer?


Logo, a torpeza do gato se esvaiu.


A sagaz cadela tratou rapidamente de exibir outros atributos para convencer o gato a readmitir a vontade explícita da cópula proibida. Ela emitiu um latido suave e doce que convenceu o gato.


Foram para o escurinho e ajustaram-se aqui e acolá, agrupando-se de forma a permitir uma mecânica sexual prazeirosa para ambos. De todos os esforços apenas a cadela satisfez o seu cio, e tratou logo de dispensar o gato.


O gato decepcionado, continua até hoje envolvido na teia grudenta da medida do impossível.

Supercola ou resina epóxi?

Ela numa noite chuvosa de quinta-feira decide:

— É só isso, não tem mais jeito! (Vanessa da Mata - Boa Sorte)

— Não faça assim! (Paula Toller - Nada por Mim)

— Minha estranha loucura é tentar te entender e não ser entendida! (Alcione - Minha Estranha Loucura)

— Meu amor! Se você for embora, sabe lá o que será de mim??? (À Francesa - Cláudio Zoli)

— Eu quero ir embora! Eu quero dar o fora! (Você não entende nada - Caetano Veloso)

— Vamos tentar tudo novo de novo. Vamos se jogar aonde já caímos! (Tudo Novo de Novo -Paulinho Moska)

— Deixa eu decidir se é cedo ou tarde. Espera eu considerar! (Deixa o Verão - Los Hermanos),

Ele pensa: "Será que ela quererá, será que ela quer, será que meu sonho influi?" (Gatas Extraórdinárias - Cássia Eller)

— Ok! Não leve a mal se eu mudo feito a moda. Hoje eu fico insegura, mas amanhã quero aventura! (Não leve a mal - Danni Carlos)

— Venha! Que a vida pra você será boa! (Acelerou - Djavan)

— Ah, se eu vou! (Ah, se eu vou! -Roberta Sá)

"Um dia desses eu me caso com você, você vai ver! Ai, ai! Você vai ver!!!" (Um dia desses - Adriana Calcanhoto)

Pára tudo, Sarney!



Há algum tempo atrás, tirei de mim e pus aqui minhas reflexões quase que bairristas no "Do bigode do Sarney". Hoje, o dito cujo anda bem célebre em capas de revista, em matérias de jornais escritos, ouvidos e televisionados.


A brilhantina voltou para Sarney que há tempos, desde que deixou a presidência, não era foco de discussões revoltosas que rolam em mesas de bares.


A permanência dele no Senado, apoiada pelo PT, e rechaçada por tucanos e democratas e a ala rebelde do próprio PMDB é um verdadeiro dissabor diário que acompanhamos.
Eu, eleitor iminente de Dilma Roussef, devido à minha antipatia tucanesca, acredito que o partido deveria sim encontrar outras maneiras de garantir a elegibilidade da ministra, não colocando em detrimento a moral e a ética do senado brasileiro.

Tendências






Quando uma possibilidade a cercava, Nívea se enchia de esperança. E isso sempre ocorreu. Infante, a emoção chegava a transbordar em si quando via Papais Noéis sofridos devido aos seus inúmeros apetrechos invernais em tempos de calor. Eles a deixavam louca e ansiosa para saber o que sairia de dentro daquele saco vermelho.


Hoje, não é diferente, Nívea está desejosa e ansiosa. A cada homem que aparece, ela despeja, sem receios, uma avalanche de sentimentos pesados, externalizando explicitamente seu desejo latente de amar e de se entregar ao outro com uma intensidade tal qual cantada por melodias sertanejas de amor barato.


O que Nívea não sabe, é que as tendências estão nas frestas do decidir da mente do ser humano, de forma que seus sucessivos preterimentos estão arraigados em uma única razão: Nívea não é tendência.


Que a vida deixe isso claro para ela. Como a neve.



Perto da Lua



Endeusar a Lua não é coisa de ameríndio. Recentemente eu mesmo fiz isso. Não, eu fiz mais do que isso, tentei chegar perto da Lua, explorá-la. E arrisquei.


A cada ano-luz que me aproximava do satélite, maravilhava-me com o mar de possibilidades que a Lua poderia me proporcionar, e quanta felicidade poderia sentir dentro de mim se eu pusesse meus dois pés nela.


No entanto, aos poucos a Lua ia se revelando, se mostrando recalcitrante. Era a temperatura fria que congelava o calor dos meus desejos. Era a gravidade menor que reduzia o peso do meu sentimento, deixando-o levemente surreal e improvável.


Daí em diante, desisti. Resolvi parar e abandonar a empreitada, mas não recuei. Estou no mesmo lugar, conseguindo sentir espiritualmente no vácuo do espaço que um dia terei todos os aparatos à mão para fincar com toda a força a bandeira da minha vitória em solo lunar.