Auge






Estou no auge, sem dúvida. Nada pode ser mais alto do que isso.


Hmmm... na verdade, pode.


No entanto, nas inúmeras paradas que fiz na escalada para refletir se valia a pena realmente se desventurar juvenilmente no caminho do amor pleno, puro e unidirecionalmente construído, percebi que nenhum esforço humano meu seria mais válido para alcançar o topo, logo, o meu auge chegou.


Hoje, o sentimento ainda indefinido percola por toda a minha forma anatomo-fisiológica, entre células, tecidos e órgãos.


Ele revigora, enciuma, alegra espiritualmente quando o topo, por impressão babaca dos meus olhos e sentidos, se faz mais próximo.


Estou no meu auge. Daqui não devo mais avançar, mas desafiar a natureza é algo tão excitante, que vou continuar a permanecer na linha perigosa e arriscada da desobediência do óbvio.

Doces ou Travessuras?


O desfrute era do clima setembral, mesmo assim, crianças precoces bateram a minha porta com o bordão do Dia das Bruxas.
— Doces ou travessuras?
A estranheza foi instantânea. Aquelas crianças não estavam fantasiadas e nem dotavam de apetrechos que conferissem o terror e o medo da data comemorativa.
Fui carinhoso, como aquelas crianças esperavam que eu ia ser, pois costumeiramente eu já o fazia com elas. Deixei elas entrarem na minha casa e tranquei a porta, com isso o alavanque da estranheza acelerou quando percebi que as infantes começavam a se despir.
Naquele instante eu pude ver a alma daquelas crianças e ter a interpretação clara de quem elas eram. O desejo de me fazer infante e me unir a elas batendo de casa em casa, e se divertir no final contando as travessuras ou devorando os doces conquistados cresceu avassaladoramente.
Por sorte ou azar, a realidade beliscou o meu impulso, mostrando a impossibilidade nua que haveria de eu cometer o ultraje, resisti. Entreguei às crianças os melhores bombons que tinha na minha despensa, e as deixei partir.