Admitir para demitir

Admite-se calma. Admite-se reações menos destemperadas a adversidades. Admite-se eleitores menos vorazes em fazer valer suas posições. Admite-se temperatura amena. Admite-se calor apenas nas relações, qualidade, enfim! Admite-se melhor administração do tempo para se fazer o que tem de ser feito. Admite-se companheirismo com verdade, sem competitividades babacas. Admite-se leveza, mas não a de pisar em ovos. Cada vez mais me admito, e demito para me admitir mais.

do porquê eu voto na Genro


Há quatro anos atrás eu publicava neste blog um mesmo texto em defesa do meu voto em Dilma Rousseff. Naquela época, o Serra era a simbologia da negação sistemática de quem não sabe reconhecer a importância das boas ações do Governo Lula. Comprei facilmente a imagem marketeira da Dilma Rousseff gestora, articuladora e não condescendente com o errado.

Dilma geriu e articulou, afinal de contas, ter uma base aliada tão diversa e governar não é fácil. Porém, foi por muitas vezes condescendente com o errado. Não cabe na minha cabeça uma mulher que tem coragem de ir sozinha a uma abertura de Copa do Mundo sabendo que quem ali pagava aqueles caros ingressos a detestava, não consigo conceber uma mulher que tem a coragem de alfinetar Barack Obama por espionagem de seu país na abertura da Assembleia Geral da ONU, não ter a mínima postura contra um simples e mero Marco Feliciano que chefiou a Comissão de Direitos Humanos dizendo absurdos em seu governo.

Friso os Direitos Humanos no argumento, pois estamos falando da primeira presidenta do Brasil. Torturada pela ditadura no passado, não compreendo como conseguiu controlar sua inquietude por dizer o que pensa e se posicionar para simplesmente manter o fundamentalismo religioso da Câmara e do Senado ao seu dispor. Não só por isso, reconheço a ineficiência e incapacidade do governo em assumir erros, repará-los e maquiar números em prol de uma reeleição. O PT precisa e tem muita capacidade de se reiventar e voltar a falar a verdade.

Essa ainda é o grande desafio do PSDB de Aécio que precisa com urgência de um "banho de povo" para imergir nas necessidades mais sanguinolentas do país e ter a capacidade didática de explicar para as elites que tanto os amam os benefícios que todos teriam com um miserável recebendo os miseráveis 70 reais por mês de uma tal de Bolsa Esmola Família!

Marina, é o novo Lula camaleônico que com uma bela história de vida se molda para chegar ao poder e fazer o mesmo. Conhecemos os resultados e precisamos de uma nova metodologia. Minha mãe sempre me ensinou que se pudermos fazer algo melhor, devemos fazer melhor. E também me ensinou a falar a verdade, o que mais é escasso em falas, discursos, debates e sabatinas.

E falando em verdade, em dedos em feridas, em postura clara do que é melhor para o Brasil e as raízes mais profundas e perversas da tragédia social deste país não há nenhum outro presidenciável como Luciana Genro. Por isso meu voto é dela.

Uma disputa de mulheres



A imprensa pouco explorou essa realidade, mas as eleições de 2014 trazem muitas novidades. A trágica morte do ex-governador Eduardo Campos que culminou no retorno do protagonismo de Marina Silva na campanha abafou muitas peculiaridades do pleito. Pela primeira vez, temos o fundamentalismo religioso representado na forma de candidato a presidência. Pela primeira vez, a reeleição, mecanismo político implantado safadamente pelo PSDB se vê ameaçada. Mas o que mais me fascina é que pela primeira vez temos três mulheres concorrendo a presidência do Brasil.

Marina Silva, Luciana Genro e Dilma Rousseff possuem histórias de vida extremamente diferentes, mas pautaram suas carreiras políticas no mesmo PT. E este é um ponto que mostra o quão inegável é o legado deste partido, hoje com sua moral e coerência abalados, para a sociedade brasileira.

Silva e Genro saíram por divergências com o partido, sendo que a segunda fez um movimento mais coerente neste sentido ao não se beneficiar dos estratagemas do partido, saiu nos primeiros sinais de que naquela fumaça havia sim fogo. Rousseff, moldada magistralmente por Lula, hoje tem envergadura própria e possibilitou para as demais candidatas o que toda pessoa dotada de sensatez já sabia, mas que babacamente os noticiários na última eleição presidencial exploraram: hoje não há grandes questionamentos sobre a capacidade de uma mulher dirigir o país.